Arquivo de agosto, 2010

Todos estão convidados para a abertura do 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?, dia 08/09, 14:30h, no Espaço Xisto Bahia-Salvador.

Acreditamos q acessibilidade deve ser uma preocupação de todos, não somente de grupos que se especializaram em trabalhar com pessoas com deficiência. Falando-se em produção artística, existem normas que exigem ações concretas para possibilitar o acesso das pessoas com deficiência aos bens culturais. Infelizmente percebemos que os produtores e criadores em geral não percebem que devem também pensar acessibilidade de uma forma mais ampla, mais responsável, assim como os profissionais de comunicação, por isso a primeira mesa que acontecerá no dia de abertura é justamente “A mídia, as políticas públicas e a produção inclusiva”.

Publicado: 31 de agosto de 2010 em Sem categoria
“Judite quer chorar, mas não consegue! foi idealizado pelo dançarino e ator Edu O., e narra através da dança a história da lagarta Judite, que amedrontada diante das transformações naturais da vida, hesita (e evita) em seguir o percurso da sua condição existencial e não quer se tornar uma borboleta. Este espetáculo singra as zonas de silêncio onde residem as emoções humanas, fazendo-nos refletir sobre nós enquanto indivíduos na vida, no mundo, sob o impacto da inexorável solidão que nos atormenta e apavora.
Edu O. mostra reluzente talento ao ocupar os palcos em que se apresenta, ressignificando a idéia da dança, usando seu corpo, de modo sensível e delicado.”
Marlon Marcos
“Judite é a vida. Todo mundo tem uma ‘judite’ dentro de si” – Edu O.
Fotos de Gustavo Porto
 
O espetáculo Judite quer chorar, mas não consegue! será apresentado com audiodescrição, realizada pela Profa. Dra. Eliana Franco, do Grupo Tramad. 
A apresentação acontecerá no dia 10/09, as 19h, no foyer de entrada da Biblioteca Pública dos Barris.
O TRAMAD (Tradução, Mídia e Áudiodescrição) é um grupo de pesquisa da UFBA, e o primeiro no Brasil, a se dedicar ao estudo sistemático e implementação da acessibilidade audiovisual para cidadãos deficientes visuais através da audiodescrição, uma modalidade de tradução audiovisual. O grupo é coordenado pela Profa. Dra. Eliana Franco (especialista em tradução audiovisual), vice-coordenado pela Me. Sandra de Farias e conta com a participação de outros pesquisadores da UFBA.

A audiodescrição é um recurso de tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma lacuna para o público deficiente visual.
 
Saiba mais: http://audiodescricaobrasil.blogspot.com/
 
Ainda restam poucas vagas para as inscrições do curso de audiodescrição dentro da programação do Encontro. Inscreva-se logo!

Sobre as apresentações artísticas

Publicado: 20 de agosto de 2010 em Sem categoria

Informamos que as apresentações artísticas que acontecerão durante todo o evento no foyer do Espaço Xisto Bahia, serão abertas ao público externo a preços populares: R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia)

FOYER 18h
08/09 – Vestido curto na alma de dantro (Grupo X de Improvisação em Dança)
09/09 – Odete, traga meus mortos (Edu O. e Lucas Valentim)
10/09 – Warrior’s (Opaxorô Cia. de Dança e Percussão)
11/09 – Estudo para carne, água e osso (His Contemporâneo de Dança)
12/09 – Braile (Liria Morays)

FOYER 19h
10/09 – Judite quer chorar, mas não consegue! (Edu O./BA)
11/09 – Espetáculo da Pulsar Cia de Dança/RJ
12/09 – Espetáculo da Cia Gira Dança/RN

Por Edu O.

Estive em Londres no mês de Junho, onde tive a oportunidade de trabalhar durante duas semanas com o grupo Candoco para um projeto especial idealizado por eles. Experiência riquíssima para minha carreira e para minha vida. Durante este período tive a oportunidade de conversar e conhecer um pouco mais sobre o trabalho dessa comapanhia que é uma referência mundial. Aqui, com sua autorização, publico uma entrevista que fiz com Pedro Machado, brasileiro, um dos diretores da Candoco Dance Company. Acredito ser importante esta publicação porque muitas falas de Pedro compactuam com o que idealizamos e iremos discutir durante o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?

Já vale começar a reflexão.

O que interessa ao Candoco?

Dança, Pessoas e Arte. Acreditamos que corpos e estórias diferentes façam com a dança, principalmente como arte, seja mais excitante.

Qual o discurso que o Candoco pretende levantar?

Cada peça e cada programa levanta questões próprias, que são interpretadas diferentemente de acordo com contexto e opiniões do leitor, ou público. Talvez ao longo do tempo a companhia levante, ou apóie, outras questões pela sua existência, legado e impacto. Como por exemplo, as razões pelas quais ainda parece haver uma distinção entre companhias da dança profissionais e companhias integradas/inclusivas, assim como quanto ao acesso a treino para todos.

Como companhia nós dedicamos muito tempo e energia para que qualquer pessoa possa participar da dança, principalmente ao nível profissional, independente do corpo físico que essa pessoa possua. Nós concentramos principalmente em aumentar possibilidades de treino e oportunidades profissionais para dançarinos deficientes, assim como contribuímos para uma questão estética da dança. Também tentamos oferecer modelos de trabalho. Essa dedicação é manifestada no nosso abrangente programa educacional, no lobby constante, nas condições de trabalho que oferecemos aos nossos dançarinos e na qualidade do trabalho que apresentamos.

Há uma formação específica para o dançarino com deficiência? Qual a formação dos dançarinos do grupo?

Isso é uma das maiores dificuldades que restringe o efeito que dançarinos deficientes podem ter na dança, por isso nós dedicamos uma grande parte do nosso trabalho ao treino e desenvolvimento profissional dos nosso dançarinos, assim como oferecemos treino e participação em vários níveis (para crianças, jovens, estudantes de dança, artistas e professores).

Durante três anos nós administramos um curso de formação preparatória básico de um ano (Foundation Course), e uma das nossa dançarinas atuais graduou-se nele (tendo antes feito uma faculdade de teatro com psicologia). Mas existem diversas rotas. Alguns dançarinos treinaram antes de sofrer um acidente que os deixaram cadeirantes por exemplo,- no momento me lembro de quatro . Outros conseguiram adquirir experiência através de vários cursos esporádicos e de trabalhos semi profissionais (como o Dan).

Não acho que seja primordial que alguém tenha treino formal para dançar, mas acho que treino formal é um direito de todos, e faço campanha para isso. Uma experiência de treino formal é muito intensa, em geral com dias extensos ao longo de pelo menos três anos. Neles o estudante está constantemente se deparando com questões pessoais em relação ‘a sua atitude profissional, tendo que tomar decisões e administrar seu fôlego e resistência. Afora é claro ao ensino adquirido, ‘a participação criativa em um ambiente de liberdade seguro, ‘a oportunidade de conhecer professores que possam ser inspiradores e ‘a troca com outros alunos.

A questão do treino especifico é interessante. Durante muito tempo, nós queríamos tanto ser reconhecidos como uma companhia como as outras estabelecidas, que insistíamos em procurar um treino parecido, com variações. Ainda o fazemos, mas as variações vão se aperfeiçoando e procuramos dar tempo e apoio para que todos os dançarinos possam desenvolver seu regime de treino, assim como procuramos trocas com artistas cujo trabalho seja instigador e naturalmente accessível.

Existe na Europa ou na Inglaterra alguma facilidade em se conseguir apoio financeiro por trabalhar com deficiência?

Sim mas nunca o suficiente. Nosso financiamento principal vem do mesmo pote que subsidia várias outras companhias de dança e negociamos o resultado e alcance do trabalho de acordo com os mesmos critérios. Ás vezes nos deparamos com alguns custos extras para facilitar acesso mas nós já trabalhamos com esses custos incorporados ao custo de manutenção geral.

Que eu me lembre, duas vezes nós recebemos fundos que vinham destinados especificadamente para a questão da deficiência. Uma quando demos nosso ‘Foundation Course’ e o financiamento vinha do departamento de educação e ensino do governo. O outro foi agora com o ‘Unlimited’, que é uma oportunidade e estimulo para apresentar trabalhos de coreógrafos deficientes.

Mas imagino que qualquer organização que nos apóie financeiramente leve em conta a natureza do nosso trabalho.

Na Inglaterra existem várias oportunidades financeiras ligadas ao sistema de saúde para quem queira fazer trabalhos artísticos em hospitais ou centros de pacientes e devem haver algumas oportunidades pela Europa, mas eu não saberia dizer quais.

Como é o olhar do público e da mídia sobre o trabalho do Candoco? Há diferença em relação a outros lugares que vocês se apresentam?

Em geral quando nos apresentamos no exterior a recepção do Público é bem mais calorosa e efusiva, talvez pela novidade e singularidade do nosso trabalho lá em contraste com a nossa história de quase 20 antes de turnê aqui. Convém mencionar que já nos apresentamos em muitos lugares onde Dança contemporânea não é muito presente como Sri Lanca, Filipinas, Trinidade e Quenia por exemplo.

Quanto ’a mídia, a percepção e nível de criticas tem mudado. Hoje em dia temos muitas criticas, ou matérias, que conseguem concentrar mais no trabalho do que na questão da deficiência. No Passado houveram casos em que jornalistas foram muito agressivos, especificamente em relação ao corpo de alguns dançarinos, e isso é muito chato mas hoje acontece menos. Há também aqueles que tentam interpretar o trabalho inteiro sob uma ótica pseudo política de deficiência, o que é curioso. E infelizmente existe uma tendência, até no público, de ignorar os dançarinos não-deficientes, o que também é pouco generoso. Mas as coisas estão mudando. Lembro que em 2002 estávamos em Singapura e uma jornalista escreveu uma matéria sem mencionar deficiência uma única vez. Muito sofisticada. Gosto muito desse guia que saiu no Guardian (um dos melhores jornais daqui) no ano passado, que soube capturar bem o espírito da companhia: http://www.guardian.co.uk/stage/2009/jan/06/dance-candoco

De que forma você acredita que o artista com deficiência pode conseguir uma autonomia em sua carreira? Você acha que a maioria dos grupos estimula esta autonomia?

Não entendo a que grupos você se refere. Talvez a grupos que trabalhem principalmente com dançarinos com dificuldade de aprendizagem, onde autonomia seja uma questão delicada. Acho que todo artista tem que trabalhar muito e ser bem proativo para que sua carreira seja proveitosa. Acredito que muitos artistas com deficiência acabam por fazer seu próprio trabalho, muitas vezes porque usam sua estória pessoal como conteúdo, mas também porque precisam gerar suas oportunidades. Na Candoco acreditamos que o ambiente criativo, profissional e rigoroso estimula artistas a serem autônomos, principalmente depois que deixam a companhia. Dança tem uma tendência a infantilizar dançarinos e temos muito cuidado de não perpetuar esses padrões. A maioria dos nosso ex-dançarinos continua a trabalhar, seja coreografando, dando aula ou dançando.

Para você o que é Disabled Dance?

Eu costumo dizer que isso é uma contradição, que no palco esses dançarinos não são ‘disabled’ já que o que eles estão lá pra fazer é dançar, e isso fazem muito bem. Gostaria de deixar de usá-lo de todo, talvez passando por uma fase em que chamássemos todos nossos dançarinos de ‘dislabeled’.

O desconforto maior é com essa relação de ‘nós’ e ‘eles’ que se cria ao usar termos que no fundo são muito reducionistas. No entanto, é importante lembrar de que nossas mensagem (como o marketing por exemplo) é direcionado a muitas pessoas diferentes, principalmente pessoas que não nos conhecem. Nem todo mundo está no mesmo lugar nessa viagem de esclarecimento. Se o preço para que possamos trazer mais algumas pessoas conosco, seja uma voluntária e parcial ignorância (na aparência somente), talvez valha a pena.

Parece incrível, mas eu ainda recebo e-mails de pessoas que dizem que queriam ter feito dança, mas não o fizeram por que foram desaconselhadas, devido a uma deficiência. Ao mesmo tempo que ouço pessoas dizendo, como Candoco foi importante para que seguissem esse caminho da dança. Só por isso é importante que mandemos bem clara a mensagem que descreve nosso trabalho.

Também vale lembrar que o conhecimento que a Candoco tem é proveniente dessa maneira de trabalho, que pra nós é natural. E esse conhecimento, junto com outros, nos define. Em um mercado de trabalho tão competitivo e pouco abastado temos que ter confiança de quando é propício de usar esses termos, mesmo sabendo que contam apenas uma pequena parte da estória.

Encerrada seleção para monitores

Publicado: 16 de agosto de 2010 em Sem categoria

Encerrada a seleção para monitoria do 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso?

Agradecemos a todos que se inscreveram, interessados em contribuir como monitores nas vagas disponíveis.

Os inscritos aguardem nosso contato com orientações sobre as funções de cada um.

ODETE, TRAGA MEUS MORTOS é um espetáculo vencedor do Prêmio Festival Vivadança 2010 e também selecionado pelo Centro Coreográfico do Rio de Janeiro para TEMPORADA 2º Semestre, com os intérpretes/criadores Edu O. e Lucas Valentim. No 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso? será apresentado dia 09/09, no foyer do Espaço Xisto, entre 18h e 19h.
ODETE fala do lugar do outro em nossas vidas, nossos mortos (pessoas, lugares, objetos e situações passadas) marcando nossos corpos, nosso estado. Tudo reverberando em nós até mesmo quando a memória não é ativada.
Durante os 40 minutos de apresentação, os artistas percorrem o universo das memórias compartilhando-as entre si e com o público de maneira que ora parecem brincar com as situações, ora mergulham fundo nas sensações que as lembranças provocam, contaminando a todos, estimulando a platéia a também acessar as próprias lembranças.
O espetáculo conta a participação linda de SOMDOROQUE que criou e executa a trilha ao vivo.
Brindemos a vida!
“Saudemos a dona da casa
Que é da nossa, que é da nossa obrigação
Se assim fora, se assim não fora
Brindemos de copo na mão”
Fotos de Alessandra Nohvais

Trecho do video The Cost of Living do grupo DV8 Theatre Company.

Embalar, empacotar, acondicionar, embrulhar, são algumas metáforas utilizadas para propor ao corpo que dança a experiência cinético-estética correlata a sensações/emoções implicadas à adaptação e ambiência, relativas ao estado em que o corpo se encontra ao ser colocado num ambiente restrito. Estratégias compositivas visam induzir fissuras no corpo para agenciamento de novas configurações, resultantes não alheias à presença do espectador, mas que abarca a relação corpo que dança/ambiente/espectador implicados entre si.
Os estudos de Giorgio Agambem e Zygmunt Bauman referenciam essa pesquisa artística, propondo discussão que entrelaça corpo/carne e vida nua, associados à fragilidade dos vínculos que permeiam as relações contemporâneas

Estudo para Carne, Água e Osso é uma proposta que se desdobra de Partes sem Roteiros – trabalho do Grupo HIS CONTEMPORÂNEO de Dança, Salvador/BA – com interesse em dar continuidade às investigações do grupo acerca do formato improvisacional de caráter processual, onde o corpo é o principal elemento propositor e construtor da obra/dramaturgia.

Este trabalho será apresentado no dia 11/09, no foyer do Espaço Xisto Bahia, no intervalo de 18h as 19h.

O novo trabalho do Grupo X de Improvisação em Dança será a primeira apresentação realizada no Encontro. Dia 08/09, entre 18 e 19h, no foyer do Espaço Xisto Bahia.

Vestido Curto na Alma de Dentro é um espetáculo/performance inspirado/a numa carta escrita por Maíra Spanghero a um querido amigo. Esses encontros/desencontros que desembocam em nossas vidas, essa lonjura, as pequenas coisas do dia-a-dia, o trabalho artístico, o arroz na panela, a necessidade de juntar o bando.

Não será isso que realizaremos em Setembro? Um Encontro para juntar o bando e pensar o que fizemos/fazemos/faremos? Chegou a hora de fazermos novos acordos, atualizarmos as configurações.

A partir de hoje publicaremos aqui os trabalhos convidados para apresentações durante todo o evento, no intuito de começarmos a sentir o gostinho do que vem por ai.

Abaixo a carta de Maíra que não foi escrita para nós, mas bem que poderia. E inserida no contexto do Encontro então…

São Paulo, 23 de abril de 2006.

Querido amigo,

Cartas podem parecer coisas em desuso, ainda mais em tempos de email e celulares, mas eu não resisti, ao imaginar que você pegaria esse papel em suas mãos e passaria seus olhos sobre ele. São tantos cruzamentos sobre os quais falar, que nem sei por onde começar. Afinal onde é o fim/inicio da rede? Sem falar que ela não tem centro: tem nós.

Você me segredou muitas preciosidades nas ultimas missivas. Teríamos metros de papo e ainda assim eu estaria atrasada com as respostas. O artista em crise, deslocamentos, novos acordos, configurações atualizadas. Óbvio que me preocupo com você e arrisco que só os corajosos vivem plenamente, tanto perto do perigo, quanto perto da alegria da descoberta de novos universos. Ele é tocado e atravessado pelo mundo com suas pessoas, coisas (seres os mais diversos), sonhos e encantamentos. Tudinho em tempo real. Inventa critérios e fica brincolando texturas e entendimentos. Não só o artista, o brasileiro parece muito assim.

Eu, do lado de cá, estou dentro de uma missão coletiva e muito séria (e para mim, encantadora, já que sempre quis ser filósofa) de construir argumentos, critérios e textos para responder porque a dança é uma área de conhecimento – com epistemologia própria e objetos singulares. Quer dizer, será que toda dança é uma forma de conhecimento? Que tipo de conhecimento tem na dança? Existem regras/princípios/características universais entre as produções desse conhecimento ou não? Será que toda dança produz conhecimento?

Durante a festa, o que mais aconteceu foram corpos chacoalhando nas mais diversas direções, planos e velocidades. Não teve um que não tenha dançado, posso lhe assegurar. Como disse uma amiga, “o funk une as pessoas”, coisa que concordei imediatamente ao ver todas (e todos) “descontrolados” na pista improvisada. Foi radiante!

O paper que mandei para o congresso de Space Art foi aprovado e eu fiquei nas nuvens. (hehehehe) Como tem sido de praxe, não poderei ir pq 1) as agências de financiamento de pesquisa exigem que o pedido seja feito no mínimo 90 dias antes (como se na vida real as coisas fosse resolvidas com essa antecedência…); 2) ministério da cultura com edital de concessão de passagens fechado (além de não responderem email); 3) crise política, crise econômica, instabilidade financeira, sujerada desvelada pra todo lado..

Vou estender a roupa. Está um domingo ensolarado e eu preciso aproveitar. […] Também descasquei cebola, abobrinha italiana e uma cenourinha básica. Sabe que a gente vive com a eterna sensação de fim de mês, economizando, sendo criativo, inventando moda, enfim. Vou fazer um risoto a la Lovelace, como chamei, com bastante curry, arroz semi-integral, vegetais (não os dos governos de cultura e editais), temperos e outros encantamentos/condimentos secretos. Lamento não poder jogar meu feitiço adiante, não tenho convidados para o almoço, o que pode acabar fazendo com eu coma de mais ou de menos.

Ta ficando menos ensolarado a ponto de, talvez, eu ter que usar a expressão levemente nublado.

Logo termino de lavar a panela que esta de molho, para fazer o arroz. Escuto o interfone do prédio ao lado disparado. O mundo anda muito barulhento, meu querido, pelo menos aqui perto de casa. É o ruído do portão da garagem do vizinho, o taxista que fala gritado, buzinas, carros, ônibus, caminhões, o pagode do apartamento ao lado no volume máximo, e assim sucessivamente.

Além disso, tambémb tenho me sentido meio defasada tecnologicamente (embora eu adore um brechozinho, um crochezinho e uns espartilhos) estou sentindo falta de um computador mais potente (meu teclado e mouse foram pro pau), um aparelho de som(pq o meu “dinossaurico” só ta funcionando o rádio e umas fitinhas cassetes), uma televisão que tenha entrada para DVD, uma tábua de passar roupa, um robô-aspirador em forma de tamanduá bandeira…

Há muito o que fazer e o sol voltou a brilhar!

Adoro quando diz “faça seu conto”. E você, mesmo quando afirma que não tem palavras, apenas paralelepípedos no peito, ainda assim, fala tão bonito. Tão cheio de letra. Com tanta vogal. Uma coisa poeta-meio-flor-escapanado-do-arame-farpado-porque-saiu-voando-noo-bico-do-beija-flor, sabicumé? Quase lamento, quem foi que me disse que a borboleta pode machucar a asa quando ta saindo do casulo? Não veio de você que “quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento”?

(a Nina espreguiça, se enrosca e parece o bicho mais feliz que existe dentro de sua própria pele na face da Terra.)

Concordo, nada de moedas. Nosso bando precisa voltar a andar junto. O sol firmou, quem podia esperar?

Vou torcer outra máquina, que é para gringo nenhum entender. Tenho pilhas de papel e o arroz por fazer.

Olha o meu angu: cebolinha e alho frito na manteiga, arroz marronzinho, kinua, uma cenoura quase inteira, uma abobrinha inteirinha, semente de linhaça, água fervida, sal, curry, pitadas de pimenta branca moída, entre mexidas misteriosas. Ta tudo lá na panela, cozinhando, cozinhando, cozinhando no ritmo do “café com pão”. Senti uma falta danada de um copo de vinho. Ta quase pronto, o arroz criando rapinha. Acabei comprando duas cervejinhas, devo terminar o dia sem sair de casa. Tem hora que a melhor coisa a fazer é comer uma maçã de sobremesa e sossegar o facho. Quantos planos a fazer? E o arroz criando rapinha. Mais goles de cerveja. E o arroz criando rapinha. Vou desligar o fogo senão queima.

Se eu pudesse, te daria o pôr-do-sol que tem aqui. Por mais incrível que possa parecer, esse solzinho de fim de tarde é de uma luz sensacional. Dá uma coisa boa no corpo, no olho, no pensamento. Dá vontade de namorar, fica romântico. Boas idéias pipocam. Se eu pudesse te daria esse presente, esse estado, essa iluminação. Uma fresta atinge os dedos no teclado. Nesse meio-tempo, quase esvazio o copo. Mandarei uma encomenda para você pelos que estão indo.

Ando quilos mais magra, virando yogue. Meu corpo, com costas-destravando, está soltando chacras adiante. Respiro, respiro, respiro. A melhor aeróbica. Sinto dor por tudo que é músculo mas ela é alegre e viva. Supero limites, viro deponta cabeça, respiro pelas narinas, entôo om. Agora agarrei meu muiraquitã e não tiro o patuá da carteira nem que a vaca tussa! Para tempos de solidão-solitária, solidão a dois, solidão em família… O fato de estar sozinha-povoada num almoço de domingo mais ou menos ensolarado/nublado vai cair muito bem. Não podemos nos esquecer que, muito pelo contrário, estou absolutamente bem acompanhada. Porque afinal de contas nada disso aqui estaria acontecendo se você não estivesse aí me ouvindo com teus olhos-garras.

No vale tudo da vida, não esqueço o protetor solar. E faço minhas preces para estar mais perto de quem amo.

Saudades oceânicas nos aproximam.

Antes que o sol se vá, receba meu abraço,

Muitas de mim, com a boa e velha ginga.

Maíra Spanghero

Fotos de Gláucia